Não há dia melhor para falar em fake news do que o fim do dia das eleições. Acordei hoje em torno das 10h, fiquei me enrolando na cama e fui dar uma olhada no facebook. Muitas postagens compartilhadas sobre fraudes nas urnas, digitar o primeiro número e encerrar a votação, outra onde você digitava o primeiro número e já aparecia a foto do candidato, antes mesmo de digitar o segundo número. Mulher esquerdista que sujou a urna com sangue e pessoa direitista que digitou o número do candidato com o cano da arma.
Não estou dizendo que todas essas notícias sejam verdadeiras, nem que todas sejam falsas, elas apenas foram compartilhadas numa rede social, e acredito que muitos desses compartilhamentos tenham sido no "automático", leram o título sensacionalista e sequer leram/assistiram ao conteúdo da notícia. Isso me fez pensar na minha tese de monografia no curso de Relações Públicas, lá eu fiz um comparativo entre mídias tradicionais e novas mídias. Naquela época o facebook ainda usava fraldas e o orkut já havia perdido sua graça. Youtube ainda não tinha anúncio antes dos videos e a TV digital estava bem no comecinho também.
Em minha tese eu alegava que as novas mídias ocupariam o lugar das tradicionais (em especial os jornais). Mas teve um fator que eu, em minha ingenuidade, desconsiderei: a confiabilidade. Quando falo em confiabilidade, não estou dizendo que jornais sejam 100% fidedignos ou estejam isentos de "mudanças" aqui ou acolá, para agradar seus editores. Obviamente o leitor de uma Carta Capital irá dizer que a Folha de São Paulo é comprada, e vice versa. O fake news não é mérito da atualidade, mas a confiabilidade a que me refiro é aquela do "se eu não vi na TV então não existe".
Mesmo sabendo que notícias são manipuladas de acordo com o interesse de uma determinada classe, tendemos a acreditar naquilo que é tátil. A notícia que tem a cara do William Bonner, a vinheta do Plantão da Globo, o locutor da CBN trazem a carga de "essa notícia é verdadeira". Podemos ver esse "apego" às mídias tradicionais na série Black Mirror 1x01, no episódio chamado "National Anthem" (Não é exatamente um spoiler, pois não conto muito sobre a narrativa do episódio, mas caso não queira saber sobre o que se trata, sugiro que pule o próximo parágrafo).
Na série a princesa de Gales é sequestrada, o primeiro ministro recebe um vídeo da princesa lendo a mensagem de resgate, e a condição para que ela seja libertada é ele fazer sexo com uma porca. Esse vídeo foi postado no youtube e já contava com milhares de visualizações. Porém, os canais locais demoraram a noticiar este fato, o que fez com que as pessoas duvidassem do sequestro ocorrido com a princesa. Assim que as redes de TV começaram a noticiar o sequestro e a veracidade do vídeo, obviamente o caso entrou para a opinião pública e começou a ser o único tema nas rodas de bar.
Eu mesma tenho uma certa dificuldade em acreditar naquilo que vejo na internet, mesmo sendo um vídeo. Ainda preciso do respaldo das mídias tradicionais para acrescentar uma veracidade naquilo que é noticiado.
Comentários
Postar um comentário